Garoto


Marlene Marques Ávila

Garoto


Dia desses, enquanto esperava uma amiga na cafeteria, me peguei escutando a conversa dos clientes da mesa ao lado. Coisa feia, pensei, mas não conseguia desviar a atenção. Uma jovem conversava com um senhor, o qual, no decorrer da conversa deduzi ser pai de uma amiga dela. Diga-se a meu favor, conversavam em tom de voz que mesmo se eu quisesse não ouvir seria impossível, então eu ouvi, fazer o quê.
– Meu garoto, coitadinho, foi atropelado. Dizia a moça.
O homem pareceu bem surpreso, passou a prestar mais atenção ao que ela falava. No acidente o garoto fraturara algumas costelas e passara muitos dias com uma cinta. Ela explicou que costelas quebradas não se engessam: não sei se o senhor sabe, eu não sabia.
– Foi muito sofrido, ele sentiu muita dor, hora certa pra tudo: dar os analgésicos, alimentação, essa parte foi bem complicada porque devido a dor ele não conseguia comer bem, logo ele, sempre tão guloso. Pedi ao meu chefe pra fazer home office nos primeiros dias, o senhor acredita que ele não concordou? Tenho certeza, se minha chefe fosse uma mulher, ela teria compreendido! Então precisei arrumar uma babá, mas fiquei muito apreensiva nos primeiros dias, nunca o tinha deixado com estranhos antes. Mas tive sorte, ela é ótima.
– Mas como foi esse acidente? Qual a idade dele?
– Foi um pequeno descuido meu, não me perdoo, o larguei um instante, um segundo, enquanto atendia o celular e ele correu para o meio da rua. É muito novinho, só tem dois anos, sem noção de perigo. A moto vinha a mil, tentou desviar, mas bateu de raspão, não imagina meu desespero quando o vi ser jogado pra cima, aquele corpinho tão frágil, achei que o tinha perdido. Zulivre, se isso tivesse acontecido, como eu ficaria?
– Mas menina, eu não sabia, quero dizer, minha filha nunca me contou sobre você ter um filho.
– O senhor sabe, Helena é desligada, mas na ocasião ela me visitou, passou um dia lá em casa e cuidou dele para eu dormir um pouco. Eu estava muito cansada, porque nas primeiras noites após o acidente, eu o trouxe para dormir em minha cama, e tinha medo de machucá-lo. Nem sei quem sofreu mais, ele ou eu. Mas enfim, agora já se recuperou, estamos bem.
– Então Graças a Deus, o pior já passou!
– Sim, ele está ótimo, cada dia maior e mais esperto! Veja ali, está chegando com a babá, ela o havia levado para passear.
Devidamente uniformizada e trazendo um Yorkshire terrier no colo, a babá se acercou da mesa, a moça o tirou dela e mostrou ao senhor que olhava embasbacado, porém não mais do que eu!
– Veja, este é o Garoto, ele não é lindo?
Não consegui ver direito o Garoto, porque nesse momento minha amiga chegou.









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Marlene Marques Ávila

E-mail: marquesavilamarlene@gmail.com

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